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INVOLUNTÁRIA MULTIDÃO

Crônicas de quem não tem como se isolar

Apresentação

Iniciei o isolamento da pandemia em um dos bairros mais populosos de Salvador. Habitava uma casa do segundo degrau de uma escadaria. Descendo, embalava mais uns 300 degraus. A vista da varanda, pela frente da casa, a escada e as outras casinhas; ao fundo, o vale do Ogunjá. Em meio a uma pandemia,  senhoras subindo e descendo com sacolas os infinitos degraus soando o tilintar das tamancas cansadas; pagode e toda "la furia" aglomerada em paredões no estacionamento vazio de um mercadão do Ogunjá. Estímulos para escrever não faltavam, embora faltasse o ânimo, a noção do tempo, a querência de uma produção. Respeitei o tempo porque ele é senhor das dores e amores.

Chuvas de março foram para abril. Deslizamento de terra ao fundo da minha casa. Os paredões não cessaram, mas a ameaça de barulhos de concreto descendo o monte era o suficiente para eu não querer ficar e apreciar a próxima aglomeração. No meia da pandemia, a procura por outra moradia. A arte pode esperar, era preciso ter onde morar.

E o ano mais longo, mais isolado, a todo momento me obrigava a aglomerar. Eram móveis para doar, casa para pintar, pais enlouquecendo no interior para visitar, trabalho que tinha de continuar, cabeça fervia e, pelas notícias, ia por muito tempo fervilhar.

Ainda na tentativa de me isolar, ponho-me a escrever, mas se o sol me chamar pra poder desfrutá-lo com segurança pelas ruas deste verão de 2021, nem reflito. Deixo as palavras para quando o tempo deste momento for um longo passado. Estas crônicas estão em minha cabeça, em rabiscos e quero dar uma vida literária a cada uma delas. Mas se o sol chamar...

Descrente, escrevo a recente memória de casas que já são fundadas e aglomeradas.

Daniel Arcades

 

1. BUSÃO - em breve aqui

2. MOSTEIRO PENTENCOSTAL

3. JANTA

4. LIBERDADE PROVISÓRIA

5. GRINDL

6. A CANÇÃO DO CARNAVAL 

7. PET 

8. PEça virtual 

9. diarista 

10. a humanidade aprendeu

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